sábado, 7 de fevereiro de 2015
Caixa velha
Acompanha-me desde que nasci uma caixa velha retumbante, complexa e por vezes abandonada, lúgubre, e em outras vezes, cheia de sol quando chovia e cheia de chuva quando sorria.
Ela guardou-me muitas lembranças, aguardou-me quando ninguém mais me esperava. Vinha se comunicando de diversas formas comigo, apontando-me um sentimento aqui, outro acolá. Repetidas cenas se formavam e a caixa começava a se sentir vazia demais, reclamava-me alto nos ouvidos e eu sempre tentava acalmá-la, buscando limpá-la, abrindo todos os seus compartimentos e deixando a luz do sol entrar, algumas vezes até mesmo um pouco de chuva, para que se contrabalançassem as ideias de que há um infinito bom e um “para sempre” mau.
Essa caixa velha era e é meu despertador, minha confusão durante o dia, minha paz durante a noite. Confesso que em minha vida já joguei muita coisa fora, algumas caíram dentro da caixa, que insistia em guardá-las de forma tão apegada, outras coisas que joguei, literalmente caíram fora da caixa e essas sim, eu realmente esqueci.
Eu conheci uma guria incrível, tomei-a como a possibilidade nova de um novo caminho. Ela me sorriu, experimentou toda a minha vontade de tê-la ao meu lado e, por medo, fugiu. Não sei o quanto realmente me entristeci, mas teci novos caminhos. Conversei uma tarde inteira com a minha caixa velha. Expliquei-a o porquê das minhas limitações sentimentais, falei-a que um mundo sem amor é apenas um mundo sem qualquer adjetivo, porque do amor vem todos os adjetivos.
Aquiesci, rompi a barreira do som, cantei alto demais, a guria voltou. Quis e quer ficar. Eu quero me reestruturar, me assentar. Entrei na minha caixa velha e adormeci. Dei meu primeiro passo... Ao sair com cuidado, deixei uma foto da guria sorrindo lá dentro.
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